"Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo".

Karl Marx

domingo, 23 de outubro de 2011

A Ética no marxismo


INTRODUÇÃO
Pensar a ética aos moldes marxistas é refletir sobre a história do homem (o processo de humanização) e como nascem as relações sociais. O homem é um ser natural que se encontra na natureza assim como os demais animais, todavia ele possui um atributo que lhe dá o controle de suas ações, a razão. Através da razão e orientado pelas suas necessidades e potencialidades, o homem passa a se apropriar dos recursos disponíveis ao mesmo tempo em que transforma o mundo em sua volta.  Logo ele supera a natureza objetiva e nesse processo transforma a si mesmo, passando então a ser outro, diferente do que era antes de interagir com a natureza.

O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO DO SER HUMANO 
Intrinsecamente existe a dicotomia: natureza ↔ homem. Essa dicotomia é mediada pelo trabalho. O trabalho é a condição de existência do homem, torna humana a natureza. A partir do trabalho realizado na natureza (reprodução material e apropriação dos bens naturais) é que nasce o homem como sujeito. Essa produção se dá com outros indivíduos, propiciando o surgimento de relações sociais. Marx trata não da relação social natural – surgida por uma profunda necessidade de contacto entre os indivíduos de uma espécie –, mas aquela que ocorre no mundo capitalista, ou seja, aquela onde os bens de produção (coisas) são os mediadores das relações humanas. Logo, na sociedade capitalista, as coisas desempenham funções sociais determinantes, ou seja, é por intermédio das coisas que as relações entre indivíduos acontecem. Para transformar a natureza e obter relações com os outros, o homem se utiliza de ferramentas e fins específicos para produzir as coisas assim como se utiliza da linguagem (sociabilidade pelo entendimento). Assim é correto afirmar que a sociabilidade é posterior ao processo de produção material; é na troca de produtos que as relações se fundamentam.

AS COISAS COMO MEDIADORAS DAS RELAÇÕES HUMANAS
Logo, as próprias coisas ganham contornos especiais por servirem de condição de troca; as relações entre as pessoas são sempre guiadas pela obtenção de algo material, sendo que esse produto possui um valor especifico que garante sua relevância. O valor é estabelecido pelo status que os produtos têm na sociedade. A alienação do homem surge nesse momento, quando aquele não vê mais o produto como algo que ele mesmo criou e sim pelo valor que o envolve.  Os produtos são a base das relações socias e por isso são tão valorizados pela comunidade em geral; o valor que eles ganham (talvez pela estética de sua composição ou pseudo utilidade) são determinados pelo mercado do consumo e não propriamente pelo indivíduo que o produz. Aí o fetichismo vai se apossando da consciência frágil do sujeito sem concepção analítica; o prazer em ter um objeto supérfluo, descartável equivale ao prazer teleológico como se, ao obeter essas coisas (mercadorias), o sujeito conquistasse sua vontade suprema, sua felicidade. 

A ELABORAÇÃO DE UMA NOVA ÉTICA E DE UM NOVO SISTEMA SOCIAL
Existe a possibilidade de contornar essa situação? Para Marx sim, ele pontua algumas necessidades práticas para tal mudança. Ei-las:
· o sujeito deve assumir a dianteira nas relações e não o capital (valorização do valor);
· acabar com o fetichismo (mercadoria assumindo o valor do trabalho);
· a ética não pode ser exploração, apropriação da força de trabalho alheia, com a aparência de tirar-lhe apenas um momento inexpressivo do dia, mas deve ser transparente;
· “tudo deve ser produzido e distribuído comunitariamente”;
todos devem participar na direção que a sociedade deve tomar, já que todos saberão - na sociedade comunista  - como funciona o processo de produção capitalista (o responsável pelas diferenças sociais).
Em suma, embora o marxismo não seja uma doutina específica acerca da fundamentação moral, mostra outros horizontes para vislumbrar as relações humanas, voltadas para o acordo mútuo de companheirismo e solidariedade.